autoconhecimento

tem que ser com a assadeira quadrada?

kalina juzwiak
August 30, 2022
auto-conhecimento

Você já se deu conta de quantas coisas da nossa rotina, do cotidiano, aceitamos como verdades e nem sequer questionamos?

Vou te contar uma breve história, que surgiu em terapia em um contexto onde eu mesma comecei a questionar alguns "deverias", dentro de uma situação de certa decepção amorosa. Onde tinha a tendência a puxar as coisas para "o que eu poderia ter feito diferente"? E digo, com assertividade o "tinha", porque é um padrão que já não faz tão parte de mim, mas ainda o "deveria" entra engatinhando disfarçado na sala. E assim venho me percebendo. E, apesar de aqui saber que eu dei o meu melhor. Não é em todas as situações que sinto - e sentimos isso, certo? E veja, aqui talvez o que engatilhou este texto, foi um amor, mas poderia se encaixar em qualquer cenário, inclusive profissional, onde os pensamentos, quase automáticos são invadidos por frases como:

Deveria ter falado isso.

Deveria ter feito isso.

Agido dessa forma.

Ou talvez de outra?

E acabamos nos prendendo em passados, que já passaram, e sobre os quais não temos poder algum mais sobre. E não nos permitimos apenas contemplar, refletir, aprender e mudar para próximas situações, quando mergulhamos nos "deverias".

Estou aos poucos identificando estes "deverias" enraizados dentro de mim, mas este texto não é sobre mim, e sim sobre uma provocação de enxergar nestes "deverias", uma máscara que tantas vezes vestimos para o “tenho que”.

Se parar, e perceber, dentro da sua rotina, de forma automática talvez você esteja se repetindo, "tenho que fazer isso" e "agir desta forma". E acaba não se abrindo para a possibilidade de questionar. Tenho que? Ou posso? Quem contou a história? Por que acreditei? E ainda, será que não pode ser diferente?

Não me entenda mal, porque de fato há situações que não temos opção e "temos que fazer" ou agir de certas formas. São posicionamentos ou mesmo situações de sobrevivência. Mas a minha provocação aqui vai na escolha de (1) a perspectiva que colocamos sobre certas coisas. Mesmo no cotidiano do "ter que" resolver tarefas. E (2) no apenas reagir automaticamente, sem ao menos questionar ou investigar. Será que não pode ser diferente?

Vou usar de uma história para ilustrar esta minha fala. E deixo aqui apenas a nota de que floreei esta passagem, para puro propósito de storytelling. Por que? Porque posso. Para te conectar ainda mais à minha provocação deste texto.

Certo dia, Amanda acordou pensando em sua Bisa, que, quando viva, fazia um bolo para adoçar os encontros da família. Era típico. Cheio de memória e nostalgia. Talvez você tenha um prato ou mesmo uma situação na sua própria família que traga este tipo de memória?

Amanda, se conectando a este sentimento resolveu folhar seus livros atrás da receita secreta da Bisa e replicá-la, naquela tarde, quando teria um tempinho para isso em meio às suas tarefas do cotidiano.

Quando encontrou a receita, logo checou se tinha todos os ingredientes e utensílios necessários, ou se teria que ainda passar no mercado ou providenciar algo. Tinha tudo, menos a assadeira quadrada que a receita pedia para assar o bolo a 180 graus, durante 35 minutos.

Abriu todos os armários e tudo que encontrou foi uma assadeira redonda, e logo se perguntou: “Será que não posso fazer com a redonda? Melhor eu investigar."

Ligou para sua mãe:

"Mãe, quero fazer o bolo da Bisa, mas a receita diz para usar uma assadeira quadrada. Só tenho uma redonda. Será que funciona? Ou tem que ser quadrada?"

"Ih filha, não sei bem. Acho que se a receita diz quadrada, melhor ser quadrada. Acho que em outra não dá certo. Por que não compra uma? Ou então ligue para sua avó, talvez ela possa te ajudar melhor."

Ela não titubeou e em seguida já discou o número da avó que a atendeu com rapidez:

"Vó, quero fazer o bolo da Bisa, mas a receita diz para usar uma assadeira quadrada. Só tenho uma redonda. Será que funciona?"

"Ih minha filha, não sei bem. Acho que se a receita diz quadrada, melhor ser quadrada. Acho que em outra não dá certo. Mas não sei ao certo, nunca fiz essa receita. Porque não liga para sua tia avó? Era ela quem sempre estava na cozinha com a Bisa. Talvez ela possa te ajudar melhor."

Amanda desligou o telefone e ligou para sua tia avó.

"Tia, quero fazer o bolo da Bisa, mas a receita diz para usar uma assadeira quadrada. A vovó falou que você que fazia esse bolo com ela. Tem que ser quadrada?"

Depois de uma risada alta que pegou Amanda de surpresa, que até distanciou o telefone de sua orelha, a tia avó disse: "Não minha filha, nós usávamos a quadrada, porque não tínhamos outra. Queríamos uma redonda, mas também nunca compramos, quando vimos que funcionava na quadrada. Se funciona na quadrada, funcionará também na redonda. Ah, e depois vou querer provar o bolo, Amanda. Saudades dos nossos encontros. A sua Bisa ia gostar que está cozinhando."

Amanda, desligou o telefone.

Separou a assadeira redonda e deixou tudo a postos para por a mão na massa, mais tarde, depois de sua rotina de trabalho.

E a reflexão que fica bolo da Bisa:

Será que a assadeira tem que ser quadrada? Só porque está escrito assim e uma receita? Que ainda vem, de outros tempos?

Se perceba, dentro das suas próprias receitas e bolos. Você está usando assadeiras quadradas por que "tem que"? Por que assim dizia a "receita"? Ou talvez por que alguém assim disse?

E você, acreditou?

Questione.

Investigue.

E a partir dai, pondere, qual o melhor caminho?

Dentro do seu contexto e possibilidades.

Que receita você está seguindo?

Que história está se contando?

Você tem que?

Ou pode?

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