rotina criativa

artistas e catadores: uma conexão entre agentes de mudança

kalina juzwiak
September 2, 2022
criatividade
mercado da arte
reflexão
arte & negócios
artivismo

A arte muitas vezes é vista como um produto, um serviço, um investimento, quase um commodity ou mesmo um luxo. E para poucos. Fatos são que, quando uma crise bate, ou temos que economizar dinheiro, uma das primeiras coisas que cortamos é a arte. Mas será que isso faz dela supérflua ou desnecessária?

Quero, brevemente, antes de mergulharmos numa nova perspectiva da arte, te provocar a refletir que, quando tratamos ela como inútil, damos a ela também um senso de exclusividade. Agora se pensarmos no nosso cotidiano como um todo não podemos concluir que a cultura é necessária. E para todos?

Quem não recorre a uma bela melodia, em um momento de melancolia, ou de desamor, ou talvez de paixão ardente? Quem não se conecta com um personagem de um filme, e tem uma catarse dentro do seu próprio cotidiano? Quem não prova uma combinação de sabores e sente o corpo todo trepidando? Quem não se emociona, ou se incomoda, com uma imagem? Um clique, uma pintura, uma frase? Tudo isso toca, tudo isso comunica. E pode gerar transformações.

E assim digo a arte tem sim funções, mas ela são qualitativas, empáticas, geram transformações, emocionais e conectoras. Elas tem um valor de uso. E é também o papel de um artista mostrar isso para o mundo. Começo esta fala com este leve cutucão, e uso também de uma frase que particularmente sou fã, e que hoje estampa o meu ateliê:

"Arte não é o que você vê, e sim o que faz os outros verem." edgar degas

E com isso quero te trazer para mais perto de um movimento, que está acontecendo em São Paulo, e em breve viajará para outras cidades do Brasil também, e tive a honra de conhecer e cobrir, em sua pré-estreia que aconteceu antes de sua abertura ao público agora do dia 01.09 ao dia 16.10.2022, no Unibes Cultural, acontece a exposição Reciclos: Uma Nova Perspectiva.

A mostra tem curadoria do artista paulistano Mundano, que assina os mega murais expostos em SP feitos com lamas e cinzas de crimes ambientais “Trabalhadores de Brumadinho(2020) eO Brigadista da Floresta(2021).

Nove artistas convidados assinam obras feitas de latas de alumínio, fios elétricos, isopor, plástico, papelão, vidro, madeira e ferro dando vida a painéis, esculturas, instalações e outras obras, que carregam uma potente mensagem sobre sustentabilidade e tem caráter interativo e itinerante.

O que me chamou a atenção, foi justamente o papel da arte neste contexto. Ela foi usada como ferramenta de aproximação, conscientização e transformação. Aproximação em duas formas. Primeiro, com outra profissão, a dos catadores de resíduos recicláveis. Duas profissões ainda tão marginalizadas pela nossa sociedade. Ambos unindo-se para o desafio do desperdício, e juntos, nesta mostra, se tornando agentes de mudança, em busca de um impacto positivo. Assim, aproximando os espectadores, em uma diversidade quase histórica de públicos (nas palavras de um grande líder entre os catadores: "um lugar onde egravatados se encontram com catadores”, para um assunto tão urgente como o descarte de resíduos e a economia circular.

As duas profissões, mesmo que de forma diferente, trabalharam aqui pelo propósito de pegar resíduos, descartes - aquilo que tantos chamam de lixo - e transformá-los em outra coisa. Em um momento arte, em um momento, a entrega para empresas que se responsabilizam em transformar o material em outro, re-utilizável dentro da própria indústria de consumo.

Nesta mostra em especial foi abordado o setor do alumínio, com dados interessantes passados pelos representantes deste movimento, mas também pelo próprio olhar dos catadores.

Compartilho algumas perguntas, alguns dados, alguns comentários captados durante a abertura da mostra, para te provocar a se informar, ou mesmo expandir um olhar, para estes universos:

Você sabia que o Brasil é o campeão mundial em reciclagem de alumínio?

E que 90% deste alumínio passa pelas mãos de catadores na cadeia da reciclagem?

Que empresas do setor produzem até 21 bilhões de latinhas, deste material, para re-inserção no mercado?

A reciclagem é renda. É profissão, dentro de uma grande economia circular, mas que ainda, 14 bilhões de reais são enterrados e alocados em locais não apropriados? Com conscientização este dinheiro pode se tornar renda.

Os catadores tem papel fundamental na cadeira de redução de resíduos. Eles são também empreendedores, e agentes urbanos, trabalhando pela mudança.

Esta mostra está sendo vista como um exemplo de respeito e inclusão social, de cidadania, aproximando estes movimentos de um centro cultural de importância da cidade. E coincidentemente (ou não), localizado há alguns quilómetros da primeira cooperativa de reciclagem do Brasil, aberta há 22 anos.

Através desta conexão entre artistas e catadores, 1500 artistas tiveram a chance de expressar em arte suas transformações, e se conectar com catadores em um projeto criado também pelo Mundano, chamado "Pimp my carroça”. Destes artistas 9 estão expondo nesta mostra.

Além das obras, o visitante, tem a chance de conhecer também de perto a história de 31 catadores que representam 800 mil catalogados no Brasil. Algumas das histórias estão estampadas na parede do Centro Cultural. E tantas outras, estão dentro do livro chamado RECICLADORES DE SONHOS, com relatos de transformação, de Norte a Sul do Brasil. Nas palavras do fotógrafo que fez estes registros, este livro é uma chance de "sairmos das redes sociais e vermos um Brasil de verdade".

Deixo aqui, esta provocação, dados e também informações para ir conferir de perto este movimento e posicionamento organizado por agentes de mudança.

Confira a expo RECICLOS: uma nova perspectiva

No Unibes Cultural em São Paulo do dia 01.09 ao dia 16.10.

Com os artistas André Inea, Everaldo Costa, Iskor, Kelly Reis, Luana Bastos, Odé Frazão, Rodrigo Machado, Serifa e Subtu.

Depois de São Paulo, a mostra segue para São José dos Campos, Pindamonhangaba, Salvador e Recife . O projeto é idealizado e realizado pela Rede Educare, com patrocínio da Novelis  e da Ball Corporation via Lei de Incentivo à Cultura da Secretaria Especial da Cultura.

assine e mergulhe

neste universo e faça parte de um loop positivo através de newsletters periódicas, que você pode assinar aqui abaixo.

ou em novidades, movimentos e referências diárias,
juntando-se ao grupo aberto do telegram. Para entrar, é só clicar aqui. Fácil assim.
Thank you! Your submission has been received!
Oops! Something went wrong while submitting the form.