rotina criativa

quando foi a última vez que se apaixonou (pela vida)?

kalina juzwiak
October 28, 2022
auto-conhecimento
lifestyle
reflexão
criatividade

Estes dias estava sentada no meu carro, no trânsito, apenas observando o que acontecia em volta de mim, com uma música nova que descobri numa lista randômica no Spotify. Gosto de fazer isso, descobrir novos - ou antigos - talentos - e ai dou uma leve viciada na música e escuto ela no repeat absorvendo as melodias e as palavras. No trânsito isso se torna quase meditativo. Vamos combinar que não temos muita opção quando sentados no trânsito numa cidade como São Paulo. Tem gente que se irrita. Tem gente que xinga. Tem gente que aproveita para ouvir um podcast, mandar umas mensagens, gravar um stories. Ou cantar. Olhei ali em volta e vi de tudo. Ao lado alguém estava irritado. Não sei bem com o que, afinal existiam algumas camadas de vidro, e provavelmente a dele ainda blindado, que literalmente blindavam qualquer tentativa te entender suas emoções. Atrás de mim, alguém aproveitava para dar uma cutucada no nariz. Quem nunca viu ali alguém aproveitando para dar uma desentupida. Eca, eu sei. Mas vai dizer que é mentira? Eu ali, ouvindo a mesma música talvez pela 7 vez já, de repente vi um homem cruzando a rua na mão contrária e parar no canteiro onde tinha uma árvore. Vi que ele tinha saído de um ponto de ônibus e a princípio não entendi bem o que ele fazia ali ao lado daquela pequena árvore que tinha suas raizes espremidas entre o concreto. Numa piscada que dei, de repente observei ele se esticando, puxando pequenos frutos e colocando na boca. Amoras? Olhei mais de perto. Pitanga! Ele colhia, comia e sorria. Quando o mastigar já não acompanhava mais a velocidade que tirava os frutos do pé, ele encheu uma mão, e com um grande sorriso correu de volta para o ponto de ônibus.

Só de observá-lo naquela pequena quebra de padrão, na contramão, na espera, em meio ao caos, ele encontrou um sorriso. O dele. E o meu também. Olhei em volta, e acho que este foi o impacto que teve. Porquê os outros continuavam (engolidos) pelas mesmas atividades quase automáticas. Esse breve sorriso que se formou nos meus lábios, ali ficou, também quando o trânsito andou. E me fez pensar no quanto a maioria de nós é engolido pelo sistema. Pelas tarefas. Pela tal correria. Pelo stress, trânsito. Talvez pela vida adulta? Sim, temos responsabilidades, mas onde foi parar a responsabilidade de encontrar as oportunidades, mesmo que breves, de um pequeno prazer? De um sorriso? De se deliciar com um sabor, em meio ao caos? Com o observar das nuvens? Das folhas balançando? De dançar, mesmo que no meio da rua, com uma música que nos transporta por alguns minutos para qualquer lugar? De deixar o corpo se mover, simplesmente porquê pede para se mover?

Vi uma cena dessas também no trânsito. Ah, o tal trânsito, ele é palco também de muitas histórias e inspiração. Já parou para prestar atenção? Vivemos num verdadeiro zoológico, parado, e ao mesmo tempo em movimento. Se nos abrimos para tal perspectiva, podemos nos surpreender. Mas claro que a escolha de usar também este momento como inspiração, é totalmente nossa. Neste outro dia, em outro extremo da cidade, o farol fechou. Às vezes me pergunto, e se não houvessem faróis? Se de alguma forma pudéssemos todos fluir em harmonia, em um fluxo otimizado. Mas ai talvez não teria um espaço tempo para ver o que vejo. Parei ao lado de uma saída de um metrô. Tinha uma grade de metal que separava a rua da calçada. Bem próximo ao meu carro, como se eu pudesse tocá-la, estava uma mulher. Talvez um pouco mais velha do que eu, talvez não. Ela vestia uma calça jeans e uma camiseta branca, tinha o cabelo solto, até mais ou menos os ombros, e entre os fios do cabelo, vi também o fio de um fone. No ombro ela tinha uma bolsa pendurada, e na mão o celular. Ela olhava para a direção contrária da qual eu estava indo. Talvez esperando alguém? Outro carro? Um ônibus? Mas lembrei da grade, que separava. Não sei bem o que ela esperava. Talvez nada, porquê de repente a vi fechando os olhos e deixar o seu corpo mover. E dançava ao ritmo de alguma música que invadia seu corpo através daquele pequeno fio que conectava seu fone ao seus ouvidos. Eu, do lado de dentro, ouvia música também. Poderíamos estar ouvindo a mesma música, porquê havia um ritmo, havia uma sincronicidade. Ela abriu os olhos, mexeu no celular, e foi de novo, para este lugar, do dançar - como se ninguém estivesse olhando. E talvez realmente ninguém estivesse. Mas eu estava. E esta cena também me fez sorrir. E me identificar, o bom pensamento automático: essa é das minhas.

Poderia ilustrar mais centenas de histórias destes pequenos atos de observação ativa em meio ao caos. Em meio ao cotidiano. Mas escolhi essas duas histórias e pessoas, para um ato de leveza. De curiosidade. Na tentativa de convidar você para a consciência de um momento de inspiração. Mesmo que breve, pequenino, em meio a um dia talvez intenso. De preocupações, de problemas, de responsabilidades. Individuais ou coletivos. E te pergunto se você tem se permitido tais momentos. De observar. Ou de viver. De se apaixonar pelas pequenas coisas em meio à sua rotina. Das coisas que te tocam. Ou do experimentar isso conectado a outras pessoas. Ficamos esperando os momentos grandiosos, as esperadas férias, o soltar a caneta, o sextou, o final de semana para realmente viver? Mas será que a vida não está também acontecendo à espera de um ônibus? No trânsito? No observar, sem registrar, de um pôr do sol? Na troca de um olhar, de uma gentileza, de uma melodia, e mesmo na frente do seu computador? Nas tarefas do cotidiano, no trocar de uma fralda, no lavar da louça? Na perspectiva do pagar uma conta? Quando foi a última vez que fez algo pela primeira vez? Quando foi atrás de algo que te assusta? Quando falou eu te amo primeiro? Quando foi a última vez que riu de algo que nem lembra o que era? Que brincou de algo, pelo simples ato de brincar? E não para instagramar? No fim, ou no começo do dia, é tudo uma questão de perspectiva. Onde, e como, você está colocando a sua energia em cada mo(vi)mento?

Uso de uma frase que li estes dias, solta, em meio a um breve momento de inspiração. Não sei realmente de quem é a autoria, mas gostaria de saber, porquê de alguma forma me tocou - e talvez te toque também:

ame a vida que vc tem, enquanto cria a vida dos seus sonhos, não pense que precisa esperar pela última para começar a fazer a primeira.

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