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cuidado com o vazio de uma vida ocupada demais

kalina juzwiak
September 26, 2022
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Vazios me instigam desde criança. Sempre gostei daquele frio na barriga, de viver algo novo. Da adrenalina que consome o corpo quando você se depara com algo que assusta. Mas ainda assim te atrai. Mas foi apenas na vida mais adulta que entendi os porquês disso. Seja por momento de vida, ou por perspectiva. Quando me vejo, estou de frente para esta palavra. Para esta sensação. Em tantos momentos pela sua imensidão. Não de nadas e sim de cheios. Sempre vi como este espaço a ser criado. A ser composto.

Na época da arquitetura, mergulhei em vazios urbanos. Os tais não lugares, que tantas vezes são deixados de lado, mas para mim sempre se apresentaram como possibilidades de conexão, de ocupação. Mesmo que silenciosa. Na carreira como artista, o estudo da composição que se equilibra entre estados cheios e vazios. Um preenchimento não tem respiro sem a presença do vazio. É um ponto de equilíbrio entre o caos e a ordem. Na vida como um todo, e nos mergulhos para dentro, a perspectiva de que vazios são sempre cheios de oportunidades. Não ter respostas ou certeza assusta muita gente, mas para mim, é uma pesquisa também pessoal sobre a confiança na nossa própria intuição. De que, mesmo que seja desconfortável, fazer movimentos e mudanças que nem sempre tenham respostas, apenas porquê sentimos que eles são necessários.

Existem tantas camadas do vazio, dos mergulhos que podemos dar neles. Um outro dia me aprofundo nisto, mas hoje uso dele como material introdutório para uma provocação, que surgiu a partir de uma reflexão, que se deu a partir de uma frase que me levou - de novo - para o vazio. Ufa! E nem tanto, pois li:

“Cuidado com o vazio de uma vida ocupada demais."

A frase é de Sócrates (pensa na antiguidade), mas é tão contemporânea, não é mesmo?

Na ocasião que li esta frase, estava eu revendo a minha rotina criativa, para implementar mais vazios. Para conseguir me dedicar a projetos ou criações que realmente são meu foco agora. Na vida de um artista o vazio não é apenas necessário, mas parte inerente do processo criativo. É neste espaço tempo que fazemos conexões, que temos ideias, que contemplamos reflexões que podem ser transformadas em expressões. E eu, sabendo disso bem, me vi não conseguindo implementar mais estes vazios. Porquê eles vinham carregados de culpa. De cobrança. Se estou no vazio, não estou fazendo o suficiente. Será que não tenho que preenchê-lo? Se ele não está cheio, quer dizer que existe mais espaço para fazer algo? Para criar projetos e movimentos? E num fluxo quase vicioso, beirei uma exaustão tentando manusear diferentes frentes e ambições, e me vi num estado de tanta ocupação. Tantos cheios. Que senti um vazio. E não este que eu na verdade buscava para conseguir criar. E sim um vazio de não conseguir me conectar a ele. A mim mesma. Isso me fez pensar sobre, e questionar, os meus comportamentos, e também tantos que observo.

A verdade é que vivemos uma grande síndrome na nossa sociedade de um cansaço compulsivo. Se não estamos correndo, não estamos trabalhando o suficiente. Não estamos vivendo uma vida significante. Uma vida ocupada virou uma prova de existência. Naquela linha de papo, mesmo que despretensioso, quando perguntamos, quase que automaticamente: “Oi, tudo bem?” E respondemos tão automaticamente quanto: “Nossa, correria. Mas tudo bem, é uma correria boa sabe?”.

Será?

Vivemos um momento onde a sensação é que não podemos perder tempo. Que não podemos perder nada (o tal FOMO =  fear of missing out). Nos conectamos e criamos para algoritmos que não compreendemos. Um mesmo algoritmo que penaliza o silêncio. E quando nos permitimos o silêncio, temos o impulso de justificar. “Estou sumida…porquê….” ou mesmo, viramos alvo de preocupação. “Amiga, você está sumida das redes, está tudo bem?” ou mesmo, já escutei “Quem não aparece no instagram, tem algo para esconder". Mas ai passei a me perguntar, será que isto não é apenas o viver? No presente? Quem se permite o silêncio ou o descanso, não está bem? Ou quem busca implementar mais isso, acaba se sentindo culpado? Ou sente que tem que depois compensar com mais horas de trabalho e dedicação? Ou se justificar? Que bate a cabeça de frente na tentativa de executar uma tarefa quando na verdade a permissão de 1 hora de silêncio, e descanso, poderiam render mais horas produtivas? E veja, o próprio descanso hoje também vive uma distorção, coitado. Um momento de silêncio, de vazio, não é passar o dedo na tela e mergulhar num feed sem fim. Ou mesmo, passar 30 minutos escolhendo uma nova série ou filme num canal de streaming. Sextou, solta a caneta, enche a cara de bebidas ou consumo. Na tentativa de encontrar um respiro em meio à vida ocupada demais, criamos na verdade uma maratona, sem fim, de micro alívios. E uma lista infinita de distrações, para apenas nos convencermos de que está tudo bem. Só “não dá para parar". Ou “quando eu morrer, eu paro”- já escutei também.

Não me entenda mal, estou plenamente consciente de uma realidade de desemprego e da necessidade de trabalharmos dentro de uma estrutura capitalista e uma economia que exige, bom, trabalho. Não é sobre isso. E sim sobre o equilíbrio de criar também o tempo para o vazio. E não esse de uma vida de sucessão de tarefas infinitas. E sim, sobre a perspectiva, e sentido, que estamos colocando na nossa vida, entre posts, hits e flopadas. Nos nutrindo de uma indústria do bem-estar que cresce exponencialmente, claramente se tornando um indicativo de que nós, como sociedade, não estamos bem. Vivendo um paradoxo diário de nos estressarmos tentando nos desestressar, numa infinita gama de receitas de suco verde e aplicativos de meditação. São ferramentas sim, mas será que não também paliativas de alguma forma? Mais uma sucessão de informação para uma mente já esgotada?

E o vazio nessa história toda? De criar um tempo de pausa, livre de culpa? De criar o tempo, de fazermos algo que nos faz bem? Algo que amamos? Simplesmente por isso. E não para compartilhar. Para postar. Para fazer uma grande reflexão. Ou viver uma grande emoção. E sim, simplesmente porque uma beleza de um breve momento, pode servir de inspiração - e respiração - em meio ao caos? Para sairmos, de um estado de alerta. E nos tornarmos simplesmente alertas perante a o que pode acontecer dentro de um vazio desprovido de cheios. Você vai perder uma notícia, um post, uma mensagem neste processo. E está tudo bem.

Cuidado com o inverso, do tal vazio, de uma vida ocupada demais.

Agora, ou em alguns anos, quando olhar para trás e se questionar, para onde foi o tempo? A vida? Aquilo que realmente era importante? Qual você gostaria que fosse sua resposta?

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